“MEMENTO, HOMO, QUIíA PULVIS ES ET IN PULVEREM REVERTERIS. ”
”
''REVERTERE AD LOCVM TVVM'
'Retornarás de onde vieste'
ARTE TUMULAR
Existe um tipo de arte que poucas pessoas conhecem, a chamada arte tumular. Deixando-se de lado o preconceito e a superstição, encontraremos nos cemitérios, trabalhos esculpidos em granito, mármore e bronze de personalidades que marcaram época. É um verdadeiro acervo escultórico e arquitetônico a céu aberto, guardando os restos mortais de muitas personalidades imortais de nossa história, onde a morte se torna um grande espetáculo da vida neste lugar de maravilhosas obras de arte e de grande valor histórico e cultural. Através da representação, a simbologia de saudades, amor, tristeza, nobreza, respeito, inocência, sofrimento, dor, reflexão, arrependimento, dá sentido às vidas passadas. No cemitério, a arte tumular é uma forma de cultura preservada no silencio e que não deverá ser temida, mas sim contempladas.
O monumento se destaca pela sua grandiosidade na paisagem paulista com seu obelisco de 72 metros de altura , revestido de mármore travertino, sobre uma cripta subterrânea em formato de cruz grega, onde repousam os restos mortais dos heróis ex-combatentes da Revolução Constitucionalista de 1932.
OBELISCO
Homenageia a Revolução Constitucionalista de 1932, seus heróis anônimos, “mártires”, a causa constitucionalista, as personalidades que mais se destacaram como o poeta Guilherme de Almeida e o “tribuno” Ibrahim Nobre, bem como o dia em que foi deflagrada a revolta armada contra o governo de Getúlio Vargas – “9 de julho”.
Tem 72 metros de altura revestido de mármore travertino. Cada face do obelisco volta-se para um dos quatro pontos cardeais. Em cada uma delas, encontram-se quatro figuras em alto-relevo, com 5,75 metros de altura. Os dezesseis relevos ornamentam o terço inferior do obelisco e aludem à luta militar da Revolução de 1932 e aos feitos dos bandeirantes. Entre os relevos, estão inscritos versos de Guilherme de Almeida:
“AOS ÉPICOS DE JULHO DE 32 QUE, FIÉIS CUMPRIDORES
DE SAGRADA PROMESSA FEITA A SEUS MAIORES
OS QUE HOUVERAM AS TERRAS E AS
GENTES POR SUA FORÇA E FÉ
NA LEI PUSERAM SUA FORÇA
E EM SÃO PAULO, SUA FÉ”.
Na base do obelisco, duas portas de formato reto, de bronze com cerca de 3,5m de altura por 2m de largura, instaladas nas faces norte e sul, denominam-se Porta da Vida e Porta da Glória, respectivamente. Com cenas em alto-relevo, a primeira exalta a capacidade de trabalho do povo bandeirante, enquanto a outra retrata a partida dos voluntários para as linhas de frente e o sacrifício dos jovens.
CRIPTA
Na entrada da cripta que leva ao subsolo , três arcos lembram as arcadas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, de onde saíram grande parte dos constitucionalistas.
Em formato de cruz grega, a cripta que mede 5 metros x 110 metros x 81 metros, sustentada por vários arcos alusivos à Faculdade de Direito, abriga uma capela e os despojos dos ex-combatente, heróis anônimos, “mártires”, a causa constitucionalista. Acima dos arcos, encontra-se a inscrição:
“VIVERAM POUCO PARA MORRER BEM
MORRERAM JOVENS PARA VIVER SEMPRE”
Três portas de bronze entre os arcos dão acesso do exterior do Monumento ao interior da cripta, e todas elas abrem-se para o exterior, para o mundo, tal como os portais do cemitério da velha Europa.
No centro da cruz que forma a cripta, localiza-se o túmulo dos primeiro que caíram com a Revolução: Miragaia, Martins, Dráuzio, Camargo (MMDC), além de Paulo Virgínio.
Uma escultura em mármore do “Soldado Desconhecido”, repousa sobre um bloco retangular maciço de mármore com os nomes gravados dos primeiros que tombaram no movimento. O bloco foi colocado sobre uma bandeira paulista que cobria os combatentes. Sobre esse tumulo, que é exatamente o centro da cruz da cripta está num nível superior, a base do obelisco, em formato de um obus de canhão, sendo uma circunferência imaginaria formada pela base do obelisco. Suas paredes são revestidas com painéis em mosaicos representando a história de São Paulo em todo o perímetro do circulo. Nessa parte superior , duas portas de bronze em estilo reto que se abrem de fora para dentro, ricamente decorada com esculturas em relevo que representam a epopéia revolucionária do povo paulista. As portas estão colocadas nas faces norte e sul, representando a “Porta da Vida” a da face norte, virada para a avenida 23 de maio e a outra, “Porta da Gloria” na face sul, virada para o parque do Ibirapuera. Na parte inferior, o conjunto representa o “Soldado” que vela por seus Heróis , por sua Bandeira e pela Constituição, motivo principal da revolução. Seu olhar fixa a base do obelisco.
Internamente o obelisco representa um canhão a ser acionado pelo herói no caso de violação da Constituição, enquanto que externamente . representa a lâmina de uma espada que atravessa o coração de São Paulo, acolhendo os filhos mortos em terra paulista por tão nobre causa. Essa foi a intenção do artista
CONSTRUÇÃO
As primeiras providências para a construção de um monumento ao soldado constitucionalista de 1932 foram tomadas em 1934, com a criação de uma Comissão Pró-Monumento por personalidades de destaque da sociedade paulistana. Um concurso público para a escolha do projeto foi realizado em 1937. O edital exigia que a obra fosse eminentemente arquitetônica e não apenas escultórica, devendo destinar espaço para acolher as urnas funerárias dos chamados “heróis constitucionalistas”. Para a seleção final, classificaram-se Mário Ribeiro Pinto e as duplas Galileo Emendabili e Mário Eugênio Pucci, Yolando Mallozzi e Arnaldo Maria Lello. Os projetos foram expostos no foyer do Teatro Municipal de São Paulo, atraindo grande público. Da comissão julgadora faziam parte Mário de Andrade, Júlio César Lacreta, Amador Cintra do Prado, Dácio A. de Moraes e Victor Brecheret. Por decisão unânime, o trabalho de Galileo Emendabili (Ancona, Itália, 1898 – São Paulo, 1974) e Mário Eugênio Pucci (São Paulo, 1908 – 1985) foi selecionado. Pucci era engenheiro e ficou responsável pela parte técnica da construção.
Apesar dos esforços na arrecadação de fundos para a construção, o projeto não saiu do papel durante todo o período da ditadura Vargas, contra quem se fizera a “Revolução”. Entre as muitas dificuldades, as verbas disponíveis não cobririam os custos com mão-de-obra e materiais.
O lançamento da pedra fundamental ocorreu no dia 9 de julho de 1949. Tanto o Governo do Estado quanto a Prefeitura destinaram recursos para a construção, a cargo da “Fundação Monumento e Mausoléu ao Soldado Paulista de 32”. O Decreto Municipal nº 1.078 de 6 de julho de 1949, determinava que o “Monumento aos Mortos de 32” deveria ser erigido “na parte central da praça circular localizada no prolongamento da avenida Brasil, a 1.100,00 metros, aproximadamente, da avenida Brigadeiro Luís Antônio.”
As obras começaram em 1950 e, cinco anos depois, o monumento foi inaugurado parcialmente em 1954, ocasião em que a terra bandeirante completava seu IV Centenário, quando para lá foram trasladados os despojos dos Heróis da Revolução Constitucionalista, Miragaia, Martins, Dráuzio, Camargo e Paulo Virgínio " ainda antes da inauguração A partir de então, todos os anos, durante as cerimônias do “9 de julho”, os restos mortais de inúmeros ex-combatentes passaram a ser transladados para a cripta. À Sociedade Veteranos de 32 – MMDC cabia a organização dessas solenidades e a administração do monumento. A conclusão das obras ocorreu somente em 1970.
CURIOSIDADES
Galileu Emendabili usou uma simbologia mística no monumento, representada pelo número 9, data máxima da Revolução.
Nove são os degraus que conduzem à cripta do Monumento; a altura do Obelisco da base até o topo é de 72 metros (7+2 =9) e da cripta até o topo a distância é de 81 metros (8+1=9, além do que 81 é o quadrado de 9). Se fizermos à soma aritmética desses valores (72 e 81) teremos 7+2+8+1=18 (1+8=9).
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